O Descer e o Permanecer na Cruz
Texto Base: Mateus 27:40 - "E dizendo: Tu que destróis o templo e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!"
Introdução: O Amor Redentor e o Caminho da Cruz
Amados irmãos e irmãs, a história da salvação é a maior prova do amor incondicional de Deus pela humanidade. Em sua infinita misericórdia, Ele enviou Seu Filho unigênito, Jesus Cristo, para nos resgatar das garras do pecado e da morte. Jesus veio ao mundo com um propósito claro: desfazer as obras do Diabo, que veio para matar, roubar e destruir (João 10:10). Todo o ministério de Jesus, cada milagre, cada palavra de ensino, cada ato de compaixão, apontava para um destino inevitável e glorioso: a cruz.
Não podemos falar de Jesus sem falar da cruz, pois ela é o epicentro da nossa fé.
Multidões seguiam Jesus, maravilhadas com Seu poder manifesto na cura dos enfermos e na libertação dos cativos. No entanto, o verdadeiro poder de Jesus não estava apenas em Seus milagres, mas em Sua disposição de cumprir a vontade do Pai, mesmo que isso significasse o sacrifício supremo. A cruz é o ponto central da história humana, um escândalo para alguns e loucura para outros, mas para nós, que cremos, é o poder de Deus para a salvação (1 Coríntios 1:18).
No versículo que lemos, Mateus 27:40, a multidão, em sua ignorância e zombaria, desafiava Jesus a descer da cruz. "Se és Filho de Deus, desce da cruz!" Que tentação terrível! Se Jesus tivesse cedido a essa provocação, se Ele tivesse descido da cruz, nossa esperança estaria perdida. Mas Ele permaneceu. Ele não desceu. E é sobre essa decisão crucial – o descer e o permanecer na cruz – que refletiremos hoje. Assim como Jesus, somos chamados a carregar nossa cruz e a permanecer nela, pois é ali que encontramos a verdadeira vida e a vitória.
I. Permanecendo na Cruz: A Perfeita Vontade de Deus e a Renúncia
O apóstolo Paulo, em Gálatas 2:19, declara: "...Estou crucificado com Cristo." Essa afirmação poderosa nos revela que a experiência da cruz não foi exclusiva de Jesus, mas é um convite para cada um de nós. Assim como Satanás tentou desviar Jesus de Seu propósito, ele incessantemente tenta nos fazer descer da nossa cruz. Mas o que significa, de fato, ir para a cruz e permanecer nela?
A. Estar na Perfeita Vontade de Deus
Ir para a cruz e permanecer nela é, antes de tudo, estar na perfeita vontade de Deus. Jesus mesmo afirmou que Sua comida era fazer a vontade Daquele que O enviou (João 4:34). Sua vida foi um exemplo sublime de submissão. No Getsêmani, diante da iminência do sofrimento, Ele orou: "Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua" (Lucas 22:42). A vontade de Jesus não interferiu na do Pai; pelo contrário, alinhou-se completamente a ela.
Quantas vezes, em nossa jornada, colocamos nossa própria vontade em primeiro lugar, colhendo prejuízos e frustrações? Para ir para a cruz, precisamos renunciar à nossa autonomia e abraçar a vontade soberana de Deus. Não se trata de uma vontade permissiva, onde Deus nos deixa fazer o que queremos, mas da Sua vontade perfeita, que nos conduz ao melhor caminho, mesmo que seja um caminho de renúncia.
B. Ir para a Cruz Significa Renúncia
A palavra "renúncia" carrega um peso significativo: recusar, não querer, desistir de. Não é um conceito fácil de abraçar, e muitas vezes Deus nos pede para renunciar a algo que nos é caro. A vida cristã produtiva e frutífera é intrinsecamente ligada à renúncia. Lembremos do jovem rico, a quem Jesus disse: "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me" (Mateus 19:21). Isso é renúncia em sua essência. O apóstolo Paulo, para permanecer na cruz, fez inúmeras renúncias.
E nós? Estamos dispostos a renunciar?
1. Recusar as Propostas do Mundo
Vivemos em um mundo repleto de propostas sedutoras, muitas delas disfarçadas, que visam nos desviar da vontade de Deus. Um emprego que parece bom, amizades que nos afastam dos princípios divinos, oportunidades que comprometem nossa fé. É crucial ter discernimento e buscar a orientação de Deus em cada decisão. Moisés é um exemplo notável de renúncia. Ele "recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado com o povo de Deus a desfrutar os prazeres transitórios do pecado" (Hebreus 11:24-25). Ele renunciou a uma posição de poder e privilégio para seguir o chamado de Deus.
2. Recusar os Desejos da Carne
A Bíblia nos ensina que o espírito milita contra a carne (Gálatas 5:17). Há uma batalha constante dentro de nós. O espírito anseia por orar, jejuar, buscar a Deus e se consagrar, enquanto a carne busca o conforto, o prazer e a satisfação imediata. Eva cedeu ao desejo de comer do fruto proibido porque era agradável aos seus olhos (Gênesis 3:6). Caim matou Abel porque não controlou o desejo de seu coração (Gênesis 4:7). Todo pecado nasce de um desejo não controlado. Satanás conhece nossas fraquezas e investe exatamente onde somos mais vulneráveis. Para ir para a cruz, precisamos recusar os desejos da carne, que são obras da natureza pecaminosa (Gálatas 5:19-21).
3. Desistir do que Não Está na Vontade de Deus
Às vezes, insistimos em pedidos e orações que não estão alinhados com a vontade de Deus. É fundamental discernir quando parar de insistir em algo que não é do plano divino para nossas vidas. A renúncia também implica em desistir de nossos próprios planos e ambições quando eles não se encaixam na perfeita vontade de Deus.
4. Decidir Não se Contaminar
A decisão de não se contaminar é pessoal e intransferível. Daniel, em sua juventude, "resolveu no seu coração não se contaminar com as iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia" (Daniel 1:8). Essa foi uma decisão firme e pessoal que o levou a permanecer fiel a Deus. Da mesma forma, precisamos tomar a decisão consciente de não nos contaminarmos com as coisas deste mundo, para que não venhamos a descer da cruz quando já estivermos nela.
C. Deixar o Espírito Santo Guiar
Ir para a cruz é permitir que o Espírito Santo nos guie e nos conduza. Muitas vezes, passamos por situações que não compreendemos, lutas e problemas que parecem insuperáveis. No entanto, o Espírito nos conduzirá através dessas situações, que servem para nos fazer crescer e depender mais de Deus. A Bíblia nos mostra exemplos claros de como o Espírito conduziu pessoas por caminhos difíceis, mas com um propósito divino:
1. O Espírito Levou Jesus ao Deserto (Mateus 4:1-11)
Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado. Ali, Ele enfrentou diversas provações. Muitas vezes, nos encontramos em situações que se assemelham a um deserto: tudo ao redor parece seco, sem vida, sem esperança. Mas o deserto não é lugar de derrota; é lugar de milagres e de aprendizado. Foi no deserto que Israel obteve suas maiores vitórias, onde o maná caiu do céu, a água brotou da rocha, e uma coluna de fogo e uma nuvem guiavam o povo. O deserto é onde aprendemos a depender de Deus, a confiar que Ele fará o impossível. Se o Espírito tem te conduzido ao deserto, permaneça firme, pois é ali que sua fé será fortalecida e você verá a provisão divina.
2. O Espírito Levou Ezequiel ao Vale de Ossos Secos (Ezequiel 37:1)
Ezequiel foi levado pelo Espírito a um vale cheio de ossos secos, um cenário de morte e devastação, onde o povo havia perdido toda a esperança. Quantas vezes nossas vidas parecem um vale de ossos secos, com sequidão espiritual, emocional ou física? Nesses momentos, o Espírito nos mostra um quadro semelhante para ver nossa reação. A resposta de Ezequiel foi sábia: "Senhor Deus, tu o sabes" (Ezequiel 37:3). Ele entendeu que somente pelo poder de Deus aquela situação poderia ser revertida. Se você está em um vale de ossos secos, reconheça o poder de Deus, pois Ele pode trazer vida onde só há morte.
3. O Espírito Impediu Paulo e Silas de Pregarem na Ásia (Atos 16:6-10)
O Espírito Santo impediu Paulo e Silas de pregarem o evangelho na Ásia, direcionando-os para outro lugar onde foram presos e açoitados. Humanamente, isso parecia um revés, mas tinha um propósito maior: ali houve salvação e arrependimento. O sofrimento por Cristo, muitas vezes, é conduzido pelo Espírito, e todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos 8:28). Paulo não compreendeu imediatamente o porquê do impedimento, mas confiou no propósito divino. O Espírito quer te conduzir para a cruz, e se você está na cruz, permaneça nela, pois é ali que você encontrará vitória, dependência de Deus e a crucificação de suas paixões carnais.
II. O Que Nos Faz Descer da Cruz?
Assim como a multidão no versículo 40 queria que Jesus descesse da cruz, Satanás, hoje, usa diversas estratégias para nos fazer abandonar nossa posição em Cristo. Muitas vezes, não conseguimos permanecer firmes e cedemos, e quando descemos da cruz, as consequências são devastadoras. Vejamos alguns dos motivos que nos levam a descer da cruz:
A. O Orgulho
O orgulho é um dos maiores inimigos da nossa caminhada cristã. Uma pessoa orgulhosa, que carece de humildade e possui um auto-conceito elevado, dificilmente sequer consegue subir na cruz. E se, porventura, ela estiver lá, as situações adversas que surgirem serão usadas por Satanás para derrubá-la. O orgulho nos impede de reconhecer nossa dependência de Deus e nos torna vulneráveis às investidas do inimigo.
B. Preocupação com a Reputação
"O que vão pensar de mim se eu fizer isso ou aquilo?" Essa pergunta, muitas vezes, nos paralisa e nos impede de mergulhar profundamente na presença de Deus. A preocupação excessiva com a reputação nos leva à vergonha do evangelho e nos impede de viver plenamente nossa fé. Jesus não se preocupou com Sua reputação ao ir para a cruz; Ele suportou a vergonha por amor a nós (Hebreus 12:2). Devemos seguir Seu exemplo, priorizando a aprovação de Deus acima da aprovação dos homens.
C. Complexos e Baixa Autoestima
Pessoas que lidam com complexos, baixa autoestima, rejeição, inferioridade ou autopiedade enfrentam grandes desafios para ir e permanecer na cruz. Essas questões emocionais e psicológicas podem se tornar barreiras intransponíveis se não forem tratadas à luz da Palavra de Deus. A cruz exige que nos vejamos como Deus nos vê: amados, perdoados e valorizados. É preciso entregar esses complexos a Cristo e permitir que Ele cure nossas feridas emocionais.
D. Pecados Não Confessados
Pecados que cometemos e não confessamos são um impedimento para ir à cruz ou, se já estamos nela, nos fazem descer. A falta de confissão cria uma barreira entre nós e Deus, minando nossa santidade e nossa comunhão. "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9). A confissão é o caminho para a restauração e para a permanência na cruz.
E. Dar Ouvidos a Satanás
Quando damos ouvidos às mentiras do Diabo, abrimos uma porta para descer da cruz. Vozes que sussurram que somos fracassados, que não há mais jeito, que não vamos conseguir, que somos assim mesmo – tudo isso visa nos afastar da cruz. Essas vozes geram incredulidade e dúvida em nossos corações. Precisamos dar ouvidos à Palavra de Deus, que nos diz quem somos em Cristo: vitoriosos, mais que vencedores, amados e capacitados. Satanás usa pessoas próximas a nós para nos desviar, por isso, é fundamental discernir as vozes que ouvimos e testá-las à luz da verdade bíblica.
Conclusão: A Vitória e a Permanência na Cruz
Quando descemos da cruz, nos afastamos da presença de Deus. A santidade se esvai, a sinceridade diminui, o amor esfria, a oração se torna vazia, o temor e a fé se enfraquecem. Mas quando permanecemos na cruz, estamos constantemente na presença de Deus. Há santidade, sinceridade, amor, fé e temor. Estamos na perfeita vontade de Deus, e há vitória!
Foi na cruz que Jesus despojou todo principado e potestade, expondo-os ao desprezo e triunfando sobre eles (Colossenses 2:15). A cruz não é um lugar de derrota, mas de triunfo! É o lugar onde nossas paixões carnais são crucificadas, onde nossa dependência de Deus se aprofunda e onde experimentamos a verdadeira liberdade.
Permaneça sempre na cruz e não desça jamais! Que a sua vida seja um testemunho vivo do poder transformador da cruz de Cristo. Amém.